Um mundo diferente aqui tão perto. Juntou-se um grupo de amigos, partimos em duas carrinhas fechadas, oito pessoas. Travessia em ferry de Algeciras para Ceuta. Daqui para Tetouan e Tanger e continuação pela costa marroquina. Fotos da época pré-digital...
A conquista de Ceuta, em 1415, marcou o início de uma série de conquistas portuguesas na costa marroquina. Após a expulsão de judeus e muçulmanos de Portugal, em 1497, milhares de portugueses fixam-se em Marrocos. A segunda vaga de refugiados ocorreu durante a ocupação de Portugal pela Espanha (1580-1640) que fica com Ceuta. Há vários vestígios de cidades e fortalezas militares portuguesas em Marrocos.
Tetouan, Grutas de Hércules
A cidade de Tanger situa-se junto ao estreito de Gibraltar, onde começa a orla atlântica de Marrocos. Em 1661 é oferecida aos ingleses como parte do dote da rainha Catarina de Bragança. Vestígios da presença portuguesa: fortaleza, igrejas e a catedral N. Sra. da Conceição. A Gruta de Hércules, perto de Tânger, é, segundo a lenda, o lugar onde a figura mítica de Hércules descansou depois de fazer as suas 12 tarefas.
Larache, Rabat
Safi
“Castelo do Mar” mandado erguer por D. Manuel I. Catedral, muralhas, casario, ruas interiores e "Castelo da Terra" com elementos manuelinos (1508-1541).
Essaouira encantou-nos.
O conjunto histórico da cidade encontra-se classificado como Património Mundial pela UNESCO. Nele destacam-se as muralhas e baluartes, onde ainda podem ser apreciadas as antigas peças de artilharia portuguesas, assim como a primitiva igreja e as fortificações na pequena ilha de Mogador, fronteira ao porto.
Em Essaouira desviámo-nos da costa para ir visitar Marrakesh, cidade encostada à majestosa Serra do Atlas, de cumes cobertos de neve durante todo o ano.
Marrakesh
De uma qualquer esplanada dos restaurantes em redor apreciamos a Praça Jemaa El Fna, um pitoresco mercado. Um mundo surrealista desenrola-se aos nossos olhos ao som do chamamento para a oração na mesquita. Contadores de histórias, dentistas, encantadores de serpentes, acrobatas, aves e macacos amestrados. A música e o ambiente contagiam-nos.
A Medina de Marrakesh é um autêntico labirinto que expõe as maravilhas do artesanato tradicional. Um verdadeiro prazer caminhar por estas vielas, entre os camponeses do Atlas e os homens do sul que aí fazem as suas compras. Regatear faz parte.
Palmar, Koutoubia
Era a primeira vez que visitava um país africano e uma civilização tão diferente da nossa. Tudo me encantava. Hotéis maravilhosos, cenários de ‘mil e uma noites’, onde nos recebem com a maior hospitalidade. A bons preços, para turistas. Mas eu gosto de conhecer os mundos dos que lá moram. Os seus costumes, hábitos, gostos. Afastei-me à socapa do grupo para uma ‘incursão’ no mundo nocturno marroquino. Queria ver a dança do ventre e as odaliscas num espaço local. Correu tudo bem mas as constatações relativamente a uma mentalidade tão diferente e a um ‘mundo feminino’ tão distante do nosso, constrangem. Isto foi em 1991 e desde então não voltei lá. As coisas terão já mudado bastante, penso. Ou não?
Regresso à costa. Tal como fizéramos com Casablanca, decidimos também evitar Agadir. Tínhamos só 15 dias e preferíamos passá-los em sítios mais pitorescos, fora das grandes cidades.
Partimos de novo para interior e ‘descobrimos’ Taroudant que muito nos agradou. O hotel era espectacular. Continuação para Ouarzazate e depois o deserto a partir de Erfoud. Daqui rumo ao norte, com paragens e visitas a Ifrane, Meknes, Fez.
Outro lugar maravilhoso. O sul por onde o tempo não passou. A vida desenrola-se à volta de oásis e kasbahs contrastando com o vasto planalto desértico que rodeia Ourzazate. No centro ergue-se orgulhosamente o kasbah de Taourirt de cor terra, construído por Glaoui. Panorama deslumbrante: a aldeia fortificada, o vale, os oásis, as montanhas. Aqui as mulheres tecem os famosos tapetes Ouazguita, célebres pelos padrões geométricos e simbólicos, vermelhos e laranjas sobre fundo preto.
Vale do Dadés
Merzouga
Meknes, Fez
As crianças abordam-nos, riem-se, seguem-nos, afáveis.
Al Hoceima
A desilusão em Al Hoceima, uma praia repleta de gente. Decidimos não pernoitar lá e ir ficar mais adiante. Parámos uma ou duas horas depois no que seria um local estratégico, segundo o mapa, na recta final da viagem. Saímos das carrinhas naquela de procurar um hotel. Eram só homens na rua. Vestiam preto, tons escuros. Queimavam não sei o quê, a rua envolta em fumarada. Era a hora do lusco-fusco. E começa um ’filme’ em tons cinza: os homens fitam-nos e começam a dirigir-se, lentamente, para nós. Parecia o mundo dos ‘mortos-vivos’. Foi o tempo de correr para os carros e sair dali a alta velocidade.
Chefchaouen
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