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sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Natal na Cisjordânia

Viagem realizada em fins de dezembro de 2013, em que visitei Israel e Jordânia, passando o dia de Natal em Belém.

Belém ou Bethlehem, que em hebraico significa “casa de pão”, é uma cidade palestina localizada na parte central da Cisjordânia, a 10 km de Jerusalém.
A Cisjordânia ou Margem Ocidental é um território sob ocupação de Israel, reclamado pela Autoridade Palestiniana e pela Jordânia, situado na margem ocidental do rio Jordão. Aqui se situam muitos locais que são sagrados tanto para o judaísmo, como para o islamismo e o cristianismo.
Várias áreas da Cisjordânia, como Belém, são administradas pela Autoridade Palestiniana, mas Israel mantém o controlo das fronteiras, tendo iniciado em 2004 a construção de um muro de separação, com 700 quilómetros de extensão.
Há mais de uma centena de checkpoints, controlados pelo exército israelense, disseminados nas estradas da Cisjordânia.
No entanto, é muito fácil ir de Jerusalém a Belém por conta própria e foi isso que fiz com a alemã Simone a partir daquela cidade onde estávamos ambas hospedadas. Basta apanhar o autocarro 21 que sai do portão de Damasco e que efetua paragem também em frente ao portão de Jaffa, onde nós entrámos.
Convém não esquecer de levar o passaporte, ainda que na viagem de ida o autocarro não páre para inspeção no checkpoint. Na aproximação à cidade é possível ver parte dos muros que a rodeiam.
No local da última paragem alugámos um táxi e começámos por visitar o Campo dos Pastores, situado onde hoje se encontra a povoação de Beit Sahur, dois quilómetros a leste de Belém.
Segundo a tradição cristã, quando chegou o momento da vinda do Filho de Deus à terra, aqui teve lugar o primeiro anúncio do nascimento de Jesus:
 
"Na mesma região encontravam-se uns pastores que pernoitavam nos campos, guardando os seus rebanhos durante a noite. Um anjo do Senhor apareceu-lhes, e a glória do Senhor refulgiu em volta deles; e tiveram muito medo. O anjo disse-lhes: «Não temais, pois anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo: Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura.»" (Lc 2, 8-12).
O santuário ‘Gloria in excelsis Deo’, em forma de decágono e com paredes inclinadas, pretende lembrar uma tenda de nómadas.
Depois de ouvir o jubiloso anúncio dos anjos, os pastores "foram apressadamente e encontraram Maria, José e o menino deitado na manjedoura".
Na área encontram-se grutas, cavidades escavadas em rocha calcária, usadas como moradia no período herodiano-romano. Os franciscanos transformaram estas grutas em pequenas capelas, muito características.
Regressámos então a Belém, local reverenciado, na tradição cristã, como aquele onde Jesus de Nazaré nasceu.
A cidade tem hoje cerca de 30.000 habitantes, sendo a maioria da população muçulmana. Abriga ainda uma das mais antigas comunidades cristãs do mundo mas cujo número tem vindo a reduzir substancialmente nos últimos anos. 
Segundo a Bíblia, José e Maria vieram de Nazaré para Belém para o censo ordenado pelas autoridades romanas porque José era da linhagem de David. Belém fora também a terra natal de David e o local onde ele foi coroado rei de Israel e do povo judaico.
O evangelho de Lucas (2:7) descreve como Maria “deu à luz o seu filho primogénito… e deitou-O numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem”.
No séc. IV foi edificada, a mando de Helena, mãe do imperador Constantino, a Igreja da Natividade sobre a caverna onde teria estado a manjedoura. A igreja atual foi construída por Justiniano no ano 530 d.C.
A Basílica da Natividade é, assim, um local considerado sagrado para o cristianismo mas também para o islamismo em virtude de os muçulmanos considerarem Jesus o segundo maior profeta islâmico. Atualmente, a Igreja é considerada pertença da Igreja Arménia, da Igreja Grega Ortodoxa e da Ordem dos Franciscanos mas o condomínio dos diferentes cultos e das várias ordens nem sempre tem sido pacífico.
O ponto máximo da visita à Igreja é a Gruta da Natividade, localizada na extremidade oriental, abaixo da área do coro, que se alcança por um lance de degraus, após enfrentarmos uma fila enorme para entrar.
Na cripta existe um pequeno nicho semicircular onde uma estrela de prata de catorze pontas marca o maior evento de toda a história, de acordo com a tradição cristã: o local do nascimento de Jesus.
Em frente está o local da manjedoura onde o Menino Jesus terá sido envolto em panos.
Saímos da Igreja da Natividade já noite, a noite de Natal do dia 24 de dezembro de 2013. Noite de Belém!
A Praça da Manjedoura, festivamente iluminada e dominada pela mesquita de Omar, está cheia de pessoas vindas de todas as partes da Terra Santa, incluindo Gaza, mas também peregrinos de todo o mundo. No palco ouvem-se cânticos de Natal em várias línguas.
À volta da praça, os mercadinhos de Natal atraem adultos e crianças num clima de festa e de solidariedade que visa dar apoio à economia da comunidade e da cidade.
O clima é tranquilo embora a praça se encontre rodeada por militares que vão controlando o enorme fluxo de pessoas.
Aproveitamos para beber um chocolate quente e para saborear uma especialidade local: moussaka palestina.
Mais tarde, vive-se por ali uma atmosfera de recolhimento que culmina com a Solene Missa do Galo na Basílica de Santa Catarina. Como não tínhamos bilhetes para assistir a essa missa juntámo-nos a um grupo francês que tinha reservado missa na Gruta do Leite, próxima dali.
A Gruta do Leite é considerada o local onde a Sagrada Família, na sua fuga para o Egito, se escondeu dos soldados de Herodes, na noite em que as crianças foram assassinadas. E enquanto Maria amamentava o seu Divino Filho uma gota de leite caiu no chão de pedra, branqueando a caverna toda.
Esta pedra branca leitosa que cobre o interior da gruta parece ter um poder mágico. Mulheres de várias crenças aqui vêm pedir a graça da maternidade ou o suprimento farto de leite. O pó da pedra, ali vendido, é levado por muitos peregrinos.
Após a missa andámos uns 2 km até voltarmos ao ponto de paragem do mesmo autocarro 21, ainda em funcionamento nesta noite especial, e que nos levou de regresso a Jerusalém.
E desta vez, no checkpoint à saída da Cisjordânia, militares israelitas entraram no autocarro para uma rápida vistoria e controlo de passaportes.

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