Esta foi uma viagem de cerca de 9 dias em Israel, 1 na Cisjordânia (Belém) e 5 na Jordânia, por altura do Natal 2013 e Ano Novo 2014. Está contada em quatro posts de acordo com os países e tendo em conta que visitei o sul e o norte de Israel antes e depois, respetivamente, de visitar a Jordânia.
Após um breve stopover em Istambul, cheguei a Tel Aviv com a Turkish
Airlines por volta da 1h00 da manhã. Passei pela imigração, onde se
limitaram a perguntar-me o que vinha fazer e onde ficaria, e saí do
aeroporto já que não tinha bagagem de mão a recolher. Logo ali fora,
encontrei as carrinhas 'sherut', tipo táxis coletivos, que fazem a
ligação do aeroporto Ben Gurion a Jerusalém e cujo bilhete custa 67
shekels, uns 14 euros. Saem quando completam 10
passageiros, funcionam 24 horas e deixam-nos à porta do destino.
Israel é um país pequeno e as distâncias relativamente curtas. Antes das 3h00 da manhã estava dentro das muralhas da cidade velha de Jerusalém, mais propriamente junto à Porta de Jaffa e à Torre de David. Procurei então o albergue onde tinha reservado cinco noites que, para além do voo, foi praticamente o único preparativo de viagem que fiz e tudo na véspera da partida...
Felizmente a Petra Hostel era logo ali, à boca da rua David, uma rua só acessível a peões. O edifício é antigo, o quarto típico e simples, limpo e com wc privativo, o quanto basta nestas viagens de mochila às costas. Mas só me apercebi de pormenores no dia seguinte pois deitei-me praticamente às escuras na camarata feminina onde outras viajantes já dormiam.
Sobretudo interessava-me a localização e o facto daquele hostel ter um terraço, ainda com vestígios da neve que cobrira Jerusalém há poucos dias, com uma vista espetacular sobre a cidade, onde eu me deliciava todos os dias com o pequeno-almoço, incluído no preço inferior a 15 euros por dia. Isto foi em dezembro de 2013 e os dias estiveram sempre agradáveis e solarengos.
Nessa mesma manhã, após uma horitas de sono, passeei um pouco pelas ruas com uma companheira de quarto americana, com família judaica no país. Depois dirigi-me para o Portão de Jaffa, umas das entradas mais conhecidas da velha Jerusalém, pois sabia que de lá saía um tour gratuito ao meio-dia. É um tour que vale a pena pois dá uma visão geral da história desta cidade, tão eclética e não menos polémica que atrai turistas e peregrinos de todo o mundo.
Portão de Jaffa
A chamada Cidade Antiga de Jerusalém é uma área em forma rectangular
rodeada por uma muralha mandada construir em 1538 pelo sultão otomano
Solimão, O Magnífico. Oito portões permitem o acesso a este centro histórico de Jerusalém onde se concentram os principais
locais sagrados. A Cidade Antiga foi nomeada Património Mundial da Humanidade pela UNESCO em 1981. Está dividida em quatro partes: a judaica, a cristã, a arménia e a muçulmana.
Jerusalém é considerada terra sagrada para as três maiores religiões
monoteístas do mundo: o cristianismo, o islamismo e o judaísmo. E é
disputada por árabes e israelitas por ter imenso valor simbólico para
muçulmanos e judeus. Para os cristãos é o palco da paixão de Cristo e onde foi
sepultado. Para os judeus é a cidade do rei David e onde o templo foi
construído para guardar a Arca da Aliança. Para
os muçulmanos é o lugar do qual o profeta Maomé ascendeu aos céus,
sendo o terceiro local mais importante do islão a seguir a Meca e a Medina,
na Arábia Saudita.
Quando o Estado de Israel foi criado, por uma resolução da Organização
das Nações Unidas em dezembro de 1947, Jerusalém foi declarada cidade
internacional. Posteriormente, os israelitas tomaram a parte oriental da
cidade santa na Guerra dos Seis Dias e anexaram-na. Após os acordos de
paz de 1993, os palestinos conquistaram a autonomia em algumas cidades
da Cisjordânia e na Faixa de Gaza. E enquanto estes reivindicam a parte
oriental de Jerusalém como capital imprescindível de um futuro Estado,
para os judeus de direita e ortodoxos ela é a capital eterna,
indivisível e inegociável de Israel. Este será o principal obstáculo que
impede a resolução do conflito entre uns e outros, sem solução à vista.
Mas enquanto aqui rola uma, pelo menos, aparente boa convivência entre todos, é fascinante percorrer as ruelas e mudar rapidamente de “cenário” numa das cidades mais antigas do mundo que já foi "destruída duas vezes, sitiada 23 vezes, atacada 52 vezes, capturada e recapturada 44 vezes".
Portão de Damasco
O quarteirão muçulmano é o maior e mais movimentado enquanto o quarteirão arménio é o mais pequeno e mais calmo da cidade. Os arménios são cristãos (a Arménia foi a primeira nação a adotar o cristianismo como religião de Estado no ano 301), mas o quarteirão arménio é distinto do cristão e a sua população não é árabe. Já o quarteirão judaico é o mais moderno. A zona, destruída na guerra de 1948, ficou em ruínas durante quase duas décadas tendo sido reconstruída há relativamente pouco tempo.
Tanto no bairro cristão como no muçulmano, o comércio é forte, vende-se
de tudo um pouco, o colorido apela os nossos sentidos e, nas ruas cheias
de gente, pairam aromas tentadores.
À noite tudo acalma e tem igualmente o seu fascínio percorrer aquelas ruas, agora tão silenciosas.
Portão de Zion
Fora dos portões da cidade, saindo do quarteirão arménio, e logo abaixo do Portão de Zion, encontra-se a sepultura de Oskar Schindler, o empresário alemão sudeto célebre por ter salvo 1200 trabalhadores judeus do Holocausto, durante a Segunda Guerra Mundial, empregando-os nas suas fábricas de esmaltes e munições.
Frente ao portão, localizado na parte sudoeste da cidade antiga, fica o Monte Zion, aportuguesado para Sião, nome originalmente dado à fortaleza jebusita que foi conquistada por David no século X a.C. Este monte foi tomado pelo exército israelita em maio de 1948, na guerra de "Libertação" ou "Independência" do Estado de Israel.
Aqui se situa o Cenáculo, a sala em que Jesus e seus discípulos celebraram a Páscoa, a Última Ceia. Ao lado está a Igreja da Dormição, o
lugar onde Maria esperou o Espírito Santo e
terá vivido depois da Ressureição até cair em sono eterno.
Abaixo da sala do Cenáculo está o túmulo tradicional do rei David que, na narrativa bíblica, é descrito inicialmente como apascentador de ovelhas e tocador de harpa na corte do rei Saul. Ganha notoriedade ao matar em combate o gigante guerreiro filisteu Golias, conquistando o direito de se casar com a filha do rei. Depois da morte de Saul, David governou a tribo de Judá, enquanto o filho de Saul, Isboset, governou o resto de Israel. Com a morte de Isboset, David foi proclamado rei das doze tribos de Israel e o seu reinado marcou uma mudança na realidade do povo hebreu: de uma confederação de tribos, transformou-se numa nação solidamente estabelecida. Em seguida, transferiu a capital de Hebron para Jerusalém e tornou-a o centro religioso dos israelitas, trazendo a Arca da Aliança (onde estavam guardadas as tábuas dos Dez mandamentos e outros objetos sagrados).
Percorrendo o lado exterior das muralhas em direção a leste, encontramos então a Cidade de David, hoje um importante centro arqueológico, que marca o lugar onde aquele rei estabeleceu o seu reinado depois da conquista da cidade aos Jebusitas no século X a.C. O berço da Cidade Santa, considerada centro do mundo, para onde foi trazida a Arca Sagrada e onde o Primeiro Templo foi construído pelo rei Salomão, o filho do rei David.
Entre as ruínas arqueológicas há casas grandes e elaboradas, os Túneis de Warren que levam ao túnel que era usado para transportar a água das fontes de Gihon para as piscinas de Siloé, e as ruínas de uma das várias torres que eram usadas para defender o poço. Os túneis são uma grande façanha de engenharia, profundos e enormes, e um tanto assustadores de percorrer principalmente para quem o fez sozinho, como eu...
Portão do Lixo
Logo acima da Cidade de David, entramos no Portão do Lixo (assim designado pois por aqui saía o lixo da cidade), o mais próximo do Muro das Lamentações e do Monte do Templo, cuja entrada se faz pelo quarteirão judaico. Para acedermos a estes locais é necessário passar por detetores de metais e um controlo de segurança que está a cargo do exército israelita. É de ter em atenção que a entrada no Monte do Templo só se faz em horários determinados. Neste local, também conhecido por Esplanada das Mesquitas, encontra-se a Cúpula da Rocha, de domo dourado, construída em 691 pelo califa muçulmano Abd El Malik, no local do Primeiro e Segundo Templos, e a Mesquita de Al-Aqsa, de domo prateado, construída no começo do séc. VIII pelo califa Walid, filho daquele.
O Monte do Templo é sagrado para muçulmanos e judeus e é um dos locais mais disputados do mundo. É o terceiro lugar mais sagrado do islamismo, onde teria ocorrido o sacrifício de Ismael e a ascensão de Muhammad (Maomé) ao paraíso. E é o lugar mais sagrado do judaísmo já que no Monte Moriá se situa a
história bíblica do sacrifício de Isaac. O lugar da "Pedra do
Sacrifício" (a Sagrada Pedra de Abraão) foi eleito pelo rei David para
construir um santuário que albergasse o objeto mais sagrado do judaísmo,
a Arca da Aliança.
Este Primeiro Templo, terminado por Salomão e, como tal, também conhecido como Templo de Salomão, foi profanado e destruído por Nabucodonosor II em 587 a.C., dando início ao exílio judaico na Babilónia. Anos depois foi reconstruído o Segundo Templo, que teria sido remodelado no século I a.C. por Herodes, o Grande, e que voltou a ser destruído em 70 d.C. pelos romanos.
Apenas o muro ocidental desta construção escapou à destruição e ainda se conserva, sendo conhecido como Muro das Lamentações e constituindo o lugar de peregrinação mais importante para os judeus. Segundo a tradição judaica, é o sítio onde deverá ser construído o terceiro e último templo nos tempos do Messias.
Todos podem aceder ao muro e, por uma questão de respeito, normalmente as mulheres cobrem a cabeça e os homens colocam um "quipá". E todos podem escrever as suas angústias, fazer um pedido ou um agradecimento, e colocar os papelinhos no muro se encontrar um espacinho livre...
Voltando a sair pelo Portão do Lixo, avistamos a aldeia palestiniana de Silwan e, logo depois, o Vale do Cédron que se estende ao longo do muro oriental de Jerusalém, separando o Monte do Templo do Monte das Oliveiras.
O Vale foi um dos principais cemitérios de Jerusalém no período do Segundo Templo e nele se encontram muitos túmulos judaicos escavados na rocha, inclusive o Pilar de Absalão, a túmulo de Bene Hezir e o túmulo de Zacarias. Várias destas sepulturas também foram usadas mais tarde como abrigos para eremitas e monges das grandes comunidades monásticas, que habitaram o Vale do Cédron.
Mais adiante, nos declives inferiores do Monte das Oliveiras, alcançamos a Basílica da Agonia, projetada pelo arquiteto Antonio Barluzzi, também chamada Igreja de Todas as Nações, pois foi patrocinada por diversos países. Foi construída em torno da Pedra da Agonia onde se acredita que Jesus teria orado, em grande sofrimento, antes de ser traído e preso. Ao lado está o Jardim de Getsêmani, um imponente conjunto de oito oliveiras milenares, outrora um horto onde havia uma prensa para extrair azeite e onde Jesus se reunia frequentemente com os discípulos.
Perto deste local situa-se a Igreja do Sepulcro de Maria onde Maria teria sido enterrada e de onde subiu aos céus. Esta caverna iluminada por velas, que foi construída pelos Cruzados, está atualmente sob o comenado das Igrejas ortodoxas arménia e grega.
Vamos então subindo a encosta do Monte das Oliveiras e observando de mais perto o extenso cemitério judeu. À esquerda, depois da Igreja russa de Maria Madalena, cujos domos dourados resplandecem à distância, surge-nos a Igreja de Dominus Flevit, que fica de frente para o Monte do Templo, e que marca o local onde Jesus lamentou o destino de Jerusalém que em breve seria destruída.
Com as minhas companheiras de quarto chego então ao cimo do Monte das Oliveiras, sagrado tanto para judeus, como para cristãos e muçulmanos, e assim designado pelas oliveiras que, antigamente, cobriam as suas encostas.
As vistas são espetaculares e o momento do dia propício. O pôr do sol derrama tons dourados sobre a cidade e dos minaretes das mesquitas, espalhadas por toda a Jerusalém, começam a ecoar, como um só canto em uníssono, as vozes melodiosas do muezim anunciando um dos momentos das cinco preces diárias.
Portão do Leão
Descendo o Monte das Oliveiras, entramos de novo na Cidade Velha pelo portão agora mais próximo, o Portão do Leão, que dá acesso ao lado este do quarteirão muçulmano. E é precisamente aqui que começa a Via Dolorosa através da qual, de acordo com a tradição cristã, Jesus Cristo carregou a cruz na qual seria crucificado, desde o Pretório de Pilatos até ao monte Calvário. O exercício da "Via Crucis", o "Caminho da Cruz", muito usual no tempo da quaresma, em que os
fiéis percorrem os lugares sagrados da
Paixão de Cristo, teve origem na época das Cruzadas (do século XI ao século XIII) e os passos desta caminhada foram sendo paulatinamente definidos.
O percurso tradicional tem quatorze estações, encontrando-se nove das estações da cruz na rua e as últimas no interior da Igreja do Santo Sepulcro. A peregrinação começa na Escola Primária Umariya, onde se situava a fortaleza Antónia, construída por Herodes, e segue para poente. Esta 1ª estação assinala a condenação de Jesus à morte, acusado de blasfémia, e o responsável pela sentença foi Pôncio Pilatos, o governador romano na altura.
Em frente situam-se duas capelas: a da condenação e a da flagelação, onde Jesus foi flagelado e onde lhe deram a cruz para ele carregar. A 2ª estação marca este momento. Fica próxima dos restos de uma construção romana, conhecida por Arco do Ecce Homo, em memória das palavras "Ecce Homo" ("Eis o homem") de Pôncio Pilatos quando mostra Jesus Cristo à multidão.
No local podemos visitar o "Lithostrotos" (Gabbatha em hebreu), que seria o pavimento original da Fortaleza Antónia que Jesus percorreu. Um pouco adiante encontram-se os calabouços em que Jesus e os outros condenados estiveram presos antes da Crucificação.
A 3ª estação referencia a
primeira queda de Jesus Cristo. No local existe hoje uma pequena capela pertencente ao Patriarcado Arménio de
Jerusalém. Ao lado aparece a Igreja arménia de Nossa Senhora das Dores que comemora a 4ª estação onde Jesus encontra sua mãe, a Virgem Maria.
Metros adiante, numa esquina, surge a 5ª estação, celebrada com uma capela franciscana: o local onde Simão de Cirineu, que vinha do campo, ajuda Jesus a carregar a cruz. Aqui, no Caminho da Crucificação, começa a ascenção ao Gólgota, o Monte Calvário. Uns degraus acima na rua à direita, encontramos a 6ª estação, que indica o encontro entre Jesus e Verónica, quando esta limpa o seu rosto com um tecido em que ficam impressas as feições de Jesus, local assinalado por uma igreja pertencente ao rito greco-católico.
No cimo da rua está a 7ª estação, onde acontece a segunda queda de Jesus sob o peso da cruz. Aqui cortamos à esquerda e logo depois subimos a rua à direita para visitar a 8ª estação, onde Jesus encontra as mulheres de Jerusalém a chorar e as consola. Retomamos os nossos passos para voltar à rua anterior e continuamos até virar novamente à direita ao encontro da 9ª estação, onde Jesus cai pela terceira e última vez. Deste ponto Jesus avistava, na época, o local da sua crucificação. Estamos agora nas traseiras da Basílica do Santo Sepulcro por onde podemos entrar para visitar as restantes estações que estão no seu interior.
A Igreja do Santo Sepulcro localiza-se no bairro cristão e foi construída por ordem do Imperador Constantino no ano 326, no local onde Jesus Cristo teria sido crucificado, sepultado e de onde ressuscitou no Domingo de Páscoa. Já depois de Constantino ter decretado o fim das perseguições aos cristãos, sua mãe Helena visitou Jerusalém com o objetivo de procurar os locais associados aos últimos dias de Jesus Cristo e
identificou o local da crucificação (o rochedo chamado Gólgota, palavra aramaica traduzida para o latim como Calvário) e o túmulo ali próximo conhecido como Anastasis (Ressurreição). O Imperador construiu então um santuário apropriado no local, a Igreja do Santo Sepulcro que é, sem dúvida, o lugar mais sagrado do mundo para os cristãos, os gregos-ortodoxos, os coptas, os siríacos, os abissínios, os maronitas e os arménios.
Igreja do Santo Sepulcro
As estações seguintes estão no Calvário, que se acessa subindo uma escada à direita da entrada principal. São elas a 10ª estação onde Jesus é despojado das suas vestes, a 11ª estação onde é pregado na Cruz e a 12ª estação onde a Cruz é erguida e onde Ele morre. No local da morte de Jesus e dos dois ladrões está uma capela greco-ortodoxa ricamente decorada. Através do vidro em ambos os lados do altar pode ver-se a pedra do Gólgota.
Na pedra há uma fissura que se crê ter sido causada por um terremoto na altura da morte de Jesus e que também pode ser vista na capela de Adão que fica sob o Calvário. À esquerda do altar há uma estátua de Maria em madeira, do séc. XVI, oferecida por Portugal e que evoca o eterno sofrimento de uma mãe perante a morte do seu filho.
A 13ª estação é quando o corpo de Jesus é retirado da Cruz e entregue à sua família. Em baixo, logo após a entrada da Igreja, está a Pedra da Unção, onde o corpo de Jesus teria sido ungido com uma mistura de mirra, aloé e óleos aromáticos e envolto num fino lençol, sendo assim preparado para o enterro por José de Arimatéia.
Por baixo da maior cúpula da igreja e no centro da Rotunda, situa-se a capela a que se chama Edícula, que contém o próprio Santo Sepulcro. O túmulo ficava originalmente numa caverna escavada na pedra e a Rotunda foi construída em volta dele. Esta é a 14ª estação, o local onde Jesus é sepultado.
A Edícula tem duas pequenas câmaras, a primeira é a Capela do Anjo, onde se acredita estar um fragmento da pedra grande que selou o túmulo e na
segunda está o próprio túmulo de Jesus. A pedra sagrada está coberta com mármore e sobre ela há pinturas que ilustram a Ressurreição. As vias-sacras modernas acrescentam uma 15ª estação: Jesus ressuscitado. A Edícula é vista como o local mais sagrado de toda a Igreja do Santo Sepulcro e, por extensão,
de todo o cristianismo.
Quando eu e a Simone regressámos de Belém (Cisjordânia), na Noite de Natal, havia grupos de peregrinos a entoar cânticos natalícios pelas ruas do quarteirão cristão. Na Igreja de Cristo, anglicana, celebrar-se-ia a Missa do Galo e ofereciam uma simpática ceia.
Foram cinco noites em Jerusalém e um dia passado em Belém. Jerusalém é uma cidade admirável e cheia de história e, embora nesta altura não houvesse um grande fluxo de visitantes comparativamente a outras alturas do ano, o que permitiu o acesso facilitado a muitos dos sítios de interesse, muito fica ainda por ver.
No dia seguinte, logo pela manhã, dirigi-me, no metro de superfície,
para a rodoviária central de Jerusalém onde apanhei um autocarro em
direção ao sul de Israel. O autocarro percorre a margem ocidental
do Mar Morto onde é possível encontrar diversos balneários ou spas em
que se pode relaxar, tomar um banho de lama, ou simplesmente mergulhar
no Mar Morto que, de tão salgado e consequentemente tão
denso, permite que as pessoas flutuem nas suas águas.
O Mar Morto é o ponto mais baixo da terra, 400 metros abaixo do
nível do mar. A quantidade de água que evapora dele é maior que a água que entra, ou
seja, é o corpo de água com a maior concentração de sal no mundo (340
gramas por litro). É chamado de Mar Morto porque a sua salinidade evita a existência de
qualquer forma de vida no lago. Por outro lado, esta sua salinidade e os seus minerais oferecem
possibilidades curativas para diferentes doenças, assim como para o
fabrico de produtos cosméticos e de beleza.
Mar Morto
Parei em Ein Gedi para sentir estas águas extremamente salgadas e, como o dia estivesse ventoso e nada convidativo para um mergulho, pelo menos para mim, tornei a apanhar um autocarro e segui para Masada.
Masada é um imponente planalto escarpado que se eleva a cerca de 520 metros acima do Mar Morto, destacando-se abruptamente na planície circundante. O acesso ao topo achatado e de forma ovalada deste monte rochoso só é possível através de um penoso trilho que serpenteia a montanha e que demora cerca de uma hora a percorrer ou por teleférico. Lá de cima as vistas para o Mar Morto, o deserto da Judeia e as montanhas da Jordânia, são fantásticas.
A primitiva ocupação neste local de penhascos íngremes e terreno acidentado, foi uma fortaleza da Judéia. O rei Herodes, o Grande (37 a.C. - 4 a.C.), aproveitou as características do local, naturalmente inexpugnável, para construir um luxuoso palácio, reforçando e ampliando a anterior fortaleza.
Masada
Mas, hoje em dia, Masada é mais conhecida por ter sido o último ponto de resistência judaica contra o império romano. Após a destruição do Segundo Templo pelos romanos, no ano 70, cerca de mil rebeldes
Zelotas fugiram de Jerusalém para Masada. O império romano marchou então em direção a Masada que foi sitiada por três anos. Os romanos construíram no lado oeste uma rampa de dezenas de metros para que sobre ela colocassem uma torre de madeira que alcançasse a muralha e que permitisse a tomada de Masada.
De acordo com o historiador Flávio Josefo, os rebeldes, percebendo que era impossível resistir mais, cometerem suicídio em massa, preferindo morrer como homens livres que serem transformados em escravos pelos romanos. E é por isso
que hoje os recrutas que ingressam nas forças israelitas, tanto homens
como mulheres, fazem o seu juramento de lealdade em Masada.
Há um albergue no sopé de Masada mas convém reservar com antecedência para lá ficar. Como normalmente só faço as reservas de véspera, tal já não era possível. Mas assim tive a oportunidade de conhecer um hostel diferente em Arad, para onde me dirigi de autocarro no final da tarde. As instalações do Desert Vision ocupam uma espécie de hangar e a decoração imita uma tenda do deserto repleta de obras de arte dos donos que são artistas plásticos.
O autocarro também passa na área turística de Ein Bokek onde existem vários resorts e hotéis de cinco estrelas que fornecem um acesso conveniente às águas do lago salgado. Depois de uma breve passagem por Dimona no dia seguinte, continuei de autocarro para Eilat, no extremo sul de Israel, uma viagem de cerca de quatro horas com paragem num check-point. Viagem esta que reservei logo no dia em que parti de Jerusalém. Também convém ter em conta que praticamente tudo paralisa durante o shabbat em Israel, o que equivale a dizer que os serviços de transportes terminam por volta das catorze horas de sexta-feira e reiniciam-se no sábado à noite.
Não me interessava visitar nem permanecer em Eilat e deixei logo o país dirigindo-me de táxi para a fronteira "Wadi Araba Crossing" onde se paga uma taxa à saída de Israel (cerca de 20 euros).
Esta viagem continua aqui: Jordânia
Esta viagem continua aqui: Jordânia
Li até ao fim, o que não faço quando não gosto da leitura, por algum motivo.
ResponderEliminarGostei muito da descrição pormenorizada, acompanhada de tão belas imagens! Cheguei dia 22, de uma visita de oito dias a esta maravilhosa e emblemática Terra, que gostei imenso. Agora aproveito para rever e relembrar. Muito obrigada.
Obrigada, Mila e continuação de boas viagens!
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